Operação Vingança | Crítica sem spoilers
- T.J. Nunes
- 12 de abr.
- 3 min de leitura

Trazendo o clima da espionagem clássica para os cinemas, Operação Vingança é um thriller que chegou discretamente às telonas, mas pode surpreender quem aprecia histórias de espiões. Baseado na obra The Amateur, o filme atualiza a narrativa para os dias de hoje, com resultados mistos. Se, por um lado, a adaptação é competente, por outro, a origem do livro (lançado em 1981) limita o impacto de algumas tecnologias modernas na trama, que acabam sendo inseridas mais como recursos estéticos do que com peso narrativo real.

A história acompanha Charles Heller, um decodificador da CIA com alto QI e grande eficiência em seu trabalho burocrático. Após eventos trágicos, Heller busca vingança, mesmo sem preparo para o campo. Sabendo disso, ele procura treinamento na própria agência para ir atrás dos antagonistas. A trama lembra, em diversos momentos, filmes da franquia Bourne, ao trazer à tona o uso de tecnologias de vigilância e segurança. No entanto, ao contrário dessa referência, o roteiro de Operação Vingança evita aprofundar as implicações éticas da vigilância e do avanço tecnológico, limitando-se a utilizar esses elementos apenas como gatilhos de tramas.

Rami Malek interpreta o protagonista Charles Heller em um papel que remete bastante à sua performance na série Mr. Robot. Seu personagem é introspectivo, desconfiado, com uma inteligência que se revela nas entrelinhas. Malek entrega uma atuação segura, embora as sequências de ação sofram com uma coreografia pouco convincente, sem, contudo, comprometer a experiência geral. O elenco de apoio traz nomes como Rachel Brosnahan, que tem pouco tempo em cena, mas cumpre bem seu papel como esposa de Heller. Laurence Fishburne e Holt McCallany são destaques positivos, enquanto Caitriona Balfe e Julianne Nicholson entregam atuações simplesmente satisfatórias, nada mais que isso.

Visualmente, o filme não se arrisca. A direção segue o manual básico dos thrillers de espionagem, com enquadramento fechado, cortes secos e uma paleta fria, sem grandes inovações. Algumas cenas de ação sofrem com excesso de cortes, o que prejudica o entendimento do que está acontecendo e compromete o impacto dessas sequências. As reviravoltas não surpreendem, mas também não atrapalham a imersão. Há traições, perseguições, reviravoltas burocráticas e aliados duvidosos, com todos os ingredientes clássicos do gênero presentes. O problema é que o filme não parece se importar em mostrar as consequências maiores de seus eventos. Grandes acontecimentos ocorrem em vários países da Europa, mas não há menção ao impacto local, às reações da população ou mesmo à repercussão midiática. Isso compromete a construção de mundo, especialmente quando se considera o contexto atual de hiperconectividade e redes sociais.

A tecnologia, embora presente, parece saudosista. Reconhecimento facial, algoritmos para melhorar imagens desfocadas e múltiplas telas com códigos remetem aos filmes e séries dos anos 2000, como O Ultimato Bourne ou CSI. Essas escolhas podem soar datadas ou até bregas, mas funcionam como uma homenagem ao gênero e cumprem seu papel sem comprometer o enredo. O roteiro tenta manter-se coeso, evitando grandes lacunas nas decisões dos personagens ou na lógica da narrativa. No entanto, quando busca justificar suas fragilidades, acaba evidenciando ainda mais suas inconsistências.

Os vilões são genéricos, e o arco de vingança, que deveria ser o motor emocional da história, é menos interessante que a perseguição interna sofrida por Heller pela própria CIA. É nesse conflito, entre o indivíduo e a instituição, que o filme consegue gerar tensão e manter o público mais apreensivo.

Operação Vingança é, no fim das contas, um thriller genérico, sem grandes pretensões. Talvez esse seja exatamente o seu propósito. Não promete ser o melhor filme de espionagem da década, mas também não decepciona quem entende sua proposta e ajusta as expectativas. Com um protagonista carismático, especialmente pelo trabalho de Rami Malek, e uma trama que, mesmo previsível, consegue manter o interesse, o longa oferece uma experiência satisfatória e pode ser uma excelente opção para quem simplesmente busca um filme para assistir despretensiosamente.


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