A paixão de Tarantino pelo cinema é algo indiscutível, pois fica explícita em suas obras. Mas, em Era uma vez em... Hollywood, isso foi elevado a outro nível, fazendo uma metalinguagem sobre o cinema, recorrendo a paródias muito bem-humoradas e, obviamente, deixando sua marca autoral.
Recriar uma Hollywood do final da década de 60 não deve ter sido fácil. Mas este é um ponto, onde o filme consegue brilhar de formar magistral, replicando o clima, ruas, prédios... fazendo o púbico realmente sentir-se neste período.
Porém, o grande trunfo deste filme não é replicar essa ambientação e, muito menos, criar uma narrativa complexa, cheia de reviravoltas. Muito longe disso! Ele foca em vários pequenos detalhes, com várias cenas soltas, quase sem conexões, mas que são costuradas de forma eficaz, tornando o filme ainda mais interessante e desmistificando o glamour da vida dos atores hollywoodianos, ao mesmo tempo em que dá um tom cômico de arrancar risadas, mas que esconde uma melancolia daqueles envolvidos no cenário do filme.
Agora falando dos personagens... Rick Dalton (Leonardo DiCaprio) é um ator frustrado, pois almeja fama e status, coisa que poucos alcançam nesse meio, e ao lado de seu dublê, Cliff Booth (Brad Pitt), a história segue sendo contada entre pequenos erros e acertos do ator.
Rick Dalton é o estereótipo do ator que chega muito perto de sofrer com o abuso de álcool, cigarros e drogas. E aqui, DiCaprio dá um show a parte! Ele consegue transmitir a pegada cômica perfeita para seu personagem que, como dito antes, esconde uma melancolia que rende ainda mais risadas. Uma cena em particular que deixa isso muito claro, é uma onde ele contracena com uma garotinha, rendendo uma conversa que pode ser descrita como uma metáfora da vida de Dalton.
Já o fiel escudeiro de Dalton, Cliff Booth, é o outro lado da moeda de Rick. Muito bonito, em uma excelente forma física, mas com alguns problemas em conseguir se estabelecer no mercado hollywoodiano, devido a um incidente bem similar ao famoso caso Robert Wagner e Natalie Wood. Cliff segue Dalton não apenas como um empregado faz tudo, mas como seu único amigo verdadeiro.
Enquanto o filme acompanha os acertos e desacertos de Dalton e Cliff, Margot Robbie como Sharon Tate está impecável! Ela conseguiu passar a inocência quase surreal que Tate aparentava ter durante vida. Obviamente que todos os artistas reais retratados no filme são feito de forma exageradamente cômica e caricata, mas sem passar dos limites.
Um dos pontos mais altos do filme é a retratação da “Família Manson”. Em uma sequência longa e cheia de tensão, o filme conseguiu deixar todos no cinema sem fôlego, na expectativa de que algo violento acontecerá a qualquer momento. Vale mencionar que Pitt soube muito bem como prosseguir nesta cena, com o jeito meio desligado de seu personagem, durante todo esse momento de tensão. Este é o tipo de coisa que acontece quando um ótimo ator é guiado por um excelente diretor.
Outro ponto forte do filme é sua trilha sonora! Tendo Tarantino como diretor, um homem que é fã das décadas de 60, 70 e 80, fica difícil imaginar que o filme não teria uma trilha deslumbrante, fazendo o expectador ficar ainda mais imerso em 1969.
E sobre até onde o filme pretende chegar... Fica difícil de falar algo sem relevar algum detalhe que estragaria a experiência de quem ainda não assistiu. Mas é possível falar que Tarantino soube como conduzir um filme surpreendente, que faz jus a sua fama e estampa bem na cara do espectador a razão da escolha do nome do filme.
Era Uma Vez em... Hollywood pode ser considerado uma obra-prima dentro do repertório de Quentin Tarantin, não apenas para os seus fãs, mas para alguns amantes da sétima arte também! Um filme composto de várias pequenas cenas, nem sempre lineares, mas costuradas de uma forma magnífica, a ponto de não ser possível enxergar defeitos no filme, fazendo os seus 161 minutos de duração passarem voando!
Utilidade Pública: tem cena extra durante os créditos.
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