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Crítica | Medida Provisória (Sem Spoiler)



Em sua estreia como diretor, Lázaro Ramos, nos entregou o melhor filme nacional do ano. Com uma visão critica sobre a sociedade em que vivemos, "Medida Provisória" consegue nos levar a um mundo distópico assustador, onde negros terão que deixar o Brasil para viver na África, o pais de suas origens, numa tentativa camuflada de reparar mais de 500 anos de escravidão. Dessa forma o Brasil seria um país só de brancos. Apesar da medida drástica imposta pelo governo na trama, podemos refletir a respeito do que está acontecendo com a nossa sociedade, como o quanto temas como racismo ainda enfrentam resistência por parte de muitos. Recheado com atuações deslumbrantes, enredo direto e trilha sonora arrebatadora, o longa toca na ferida sem medo de machucar.



No elenco temos o ator internacional Alfred Enoch que interpreta Antonio o par romântico da atriz Tais Araújo que dá vida a Capitú, onde os dois na trama dividem o apartamento com André, personagem de Seu Jorge que, inclusive, tem um romancezinho com Sarah personagem de Mariana Xavier (Minha mãe é uma peça). O trio de protagonistas negros fazem parte de um tipo de grupo chamado, pela sociedade na trama, de "melanina acentuada". Antonio é um advogado que defende mudanças nas leis, buscando uma reparação histórica onde pessoas negras com dificuldades financeiras possam ser beneficiadas em dinheiro pelo dano que a escravidão causou ao seu povo. Isso não vai agradar todo mundo - não vai agradar os brancos de terno - que tentarão reverter o projeto ao engavetamento. Sabe aquela famosa frase "a porta da rua é a serventia da casa"? O mais cômico é que ainda ouvimos esse tipo de frase quando o assunto é a atuação do governo atual. Lázaro Ramos preveu o futuro? Afinal, o filme estava pronto desde 2019, mas só agora conseguiu ser aprovado pela Ansine. Ou, na verdade nem precisaremos ter bola de cristal para saber o que acontecerá com o Brasil se a sociedade não acordar, não é verdade? Enfim, prosseguindo... De forma drástica figuras eleitorais como o governador Lobato (Claudio Gabriel) farão com que a lei de "reparação" seja feita de forma bruta. Lobato ganhará seguidores como as personagens de Adriana Esteves (Isabel) e Renata Sorrah (Izildinha), contribuindo na execução da lei nada preconceituosa. Esteves e Sorrah são maravilhosas como vilãs. A gente ama odiando.




Em determinado momento, Antonio e Capitú ficarão separados, causando uma onda de terror e dúvidas entre eles. Seu Jorge nos surpreende em cada atuação, o também cantor, entrega um personagem carismático e fundamental para o desfecho da trama. É neste momento que veremos as demais atuações de nomes como Flavio Bauraqui, Hilton Cobra, Pablo Sanábio, Paulo Chun e a maravilhosa Diva Guimarães. É claro que existem outros nomes que contribuíram para deixar "Medida Provisória" ainda mais fantástico, nos capturando em cada cena de tensão e alívio cômico.





Na direção temos Lázaro Ramos, na fotografia temos Adrian Teijido que já trabalhou em "Marighella", "O Palhaço", "Gonzaga: De pai pra filho" entre outros. Em Medida Provisória, Teijido nos entrega uma fotografia impecável numa mistura de drama com dark. Na edição temos Diana Vasconcellos, na direção de arte temos Tiago Marques, desenho e edição de som é com Waldir Xavier. O roteiro também fica com Lázaro que teve auxilio de Lusa Silvestre. Vale lembrar que em 2020 o filme recebeu o prêmio de melhor roteiro no Indie Memphis Festival. Entendemos agora o motivo da vitória. A produção é de Lereby Produções e Lata Filmes. Coprodução Globo Filmes e Melenina Acentuada. Findando com a distribuição de Elo Company e H2O Films.



Medida Provisória foi uma adaptação da obra dramática do também ator Aldri Anunciação, "Namíbia, não!", onde Lázaro conseguiu levar aos palcos como peça teatral. Agora podemos assistir a essa adaptação que nos enche de orgulho do cinema nacional pela tamanha qualidade como foi elaborada. É uma obra necessária em tempos que nós estamos vivendo, principalmente agora em ano de eleição. Medida Provisória não é só um filme para se emocionar, é um filme que nos faz agir, que nos faz despertar. Enquanto lhes escrevo essa critica, continuo com a música de Elza Soares na mente: "Nosso país, nosso lugar de fala."






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