Com um grande hype, vêm grandes expectativas! E sim, muitas delas foram cumpridas com o filme, mas que podem desagradar àqueles que esperam algo mais próximo dos filmes convencionais de heróis.
Em uma Gotham caótica e doente (em vários aspectos), do início dos anos 80, o filme segue a história de Arthur Fleck (Joaquin Phoenix), um homem que sofre de um distúrbio que o faz rir em situações muito desconfortáveis, mas que luta para se integrar à sociedade e cuidar de sua mãe enferma.
Com este background é bem comum esperar algo óbvio, como um homem, maltratado pela sociedade, explodindo repentinamente e voltando-se contra ela. Mas, apesar de ter um pouco disso, o filme passa longe de entregar um plot tão simples assim. Todd Phillips entrega algo realmente singular aqui!
Brincando com a sanidade de Arthur, a trama coloca o espectador várias vezes em dúvida em relação a quem é são de verdade naquele lugar. Praticamente, tornando a loucura uma personagem à parte entre Arthur e a sociedade, e criando uma concepção completamente nova do Coringa.
Uma coisa muito importante neste filme é a interpretação de Joaquin Phoenix. Alcançar tamanha maestria, numa combinação que beira a perfeição, entre o corpo e a linguagem transmitida é algo fenomenal. E só quem estuda e se entrega tão profundamente a um papel pode obter. Em alguns momentos, é como uma perfeita sinestesia, onde o corpo consegue não apenas se expressar, mas transmitir uma série de sensações variadas em um curto espaço de tempo. No mínimo, Phoenix merece uma indicação ao Oscar.
Voltando a falar de Todd Phillips... Deixar o universo de Batman o mais longe possível deste filme foi algo muito inteligente, levando-se em conta a pegada mais crível que ele pretendia dar à obra, deixando apenas algumas referências à clássica HQ Piada Mortal e conseguindo dar à família Wayne algum tipo de ligação com o vilão, mas ainda deixando o Batman de fora da sua criação.
Em relação às polêmicas levantadas ao redor do filme, Phillips optou em explorar a causas, tudo aquilo que levou Arthur Fleck ao Coringa, e não em celebrar a selvageria, deixando claro que tudo aquilo era fruto de uma sociedade decadente e doente, que beneficia alguns e despreza outros.
E falando novamente de algo diferente entregue aqui... Temos aqui, sem sombra de dúvidas, um filme de drama: que se interessa em construir minuciosamente a trajetória da loucura de Fleck, brincando com a compreensão do espectador a respeito da loucura do personagem e da sua visão desse mundo completamente caótico, numa combinação de Taxi Driver e O Rei da Comédia – não é à toa que Martin Scorsese quase entrou no projeto como produtor e são notórias as inspirações em seus trabalhos (além de ter Robert De Niro nos filmes).
Outro pronto que vale a pena ser mencionado é a fotografia do filme. Levando em conta os trabalhos já citados do Scorsese que claramente serviram de inspiração para a trama, foi entregue algo realmente muito bem feito! É muito perceptível que, em alguns momentos, a fotografia dá um ar mais sombrio e perturbador á inocência de Fleck, fazendo com que qualquer um dentro do cinema tema por uma reação explosiva e desproporcional do Coringa.
Inicialmente, era complicado de pensar neste filme sem desvincular o personagem da HQ. Mas a combinação Phillips e Phoenix conseguiu fazer algo realmente inédito, entregando um filme que até aqueles que não conhecem muito de quadrinhos são capazes de apreciar, seja pelas atuações, pela fotografia, pela história concisa e crível, ou pela direção impecável. Um filmaço, que vale a pena cada centavo pago na entrada. Realmente é uma pena que deixaram claro que este filme se trata de uma peça solo, sem conexão com o resto do universo da DC. Apesar de ter sido inteligente ter deixado o universo do Batman um tanto longe deste filme, o resultado final pode (ou poderia) render algo positivo para o universo DC. Quem sabe a Warner Bros. Não dá um jeito nisso?!
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