Aqui chega aos cinemas com uma perspectiva incomum em produções cinematográficas. Simulando uma câmera fixa em um tripé, o filme nos conduz por milhares de anos, desde os tempos dos dinossauros, passando pela queda do meteoro que dizimou inúmeras formas de vida, a regeneração da natureza após o evento catastrófico, o surgimento dos primeiros humanos, os hábitos culturais dos povos nativos americanos, o desenvolvimento da sociedade moderna, os conflitos armados, as crises de saúde global e, por fim, as dinâmicas sociais contemporâneas. Ao longo dessa jornada, acompanhamos diferentes núcleos familiares e seus momentos marcantes, conectados pelo mesmo espaço físico, enquanto suas histórias se entrelaçam com as transformações do mundo ao redor. Essa abordagem é conduzida com criatividade pelo diretor Robert Zemeckis, oferecendo uma perspectiva instigante sobre a passagem do tempo em um único local.
A fotografia do filme mantém um único enquadramento do início ao fim, porém Zemeckis trabalha esse espaço de tela com criatividade. Seja na construção do cenário ou na inserção de janelas que mesclam o tempo atual com outro período, o diretor cria uma dinâmica visual que evita a monotonia de simples cortes entre cenas. Embora a ideia de uma câmera fixa seja interessante, sua aplicação não é inteiramente bem implementada no filme. Além da narrativa estar dividida em cortes que apresentam vários núcleos de personagens, a história não é contada de forma cronológica. Ou seja, somos, enquanto telespectadores, jogados constantemente para frente e para trás nos arcos narrativos, enquanto o filme tenta suavizar essas transições por meio de mesclagens visuais. Esse vai e vem entre cortes torna o filme mais interessado em expor as consequências dos conflitos do que em explorar como os personagens os vivenciam e superam.
Por falar em causa e consequência, é hora de abordar o "elefante branco" presente desde o trailer do filme: o rejuvenescimento e envelhecimento dos personagens por meio de recursos tecnológicos. Antes de mais nada, é importante destacar um detalhe dos bastidores dessa obra. Foi utilizada uma tecnologia chamada Metaphysic Live, que, de forma simplificada, realiza o processo de rejuvenescimento ou envelhecimento diretamente durante a gravação, sem a necessidade de pós-produção. Enquanto outras produções aplicam esses efeitos posteriormente, essa inteligência artificial os insere em tempo real na filmagem. A tentativa de Zemeckis de inovar com essa tecnologia merece reconhecimento. Novas ferramentas expandem as possibilidades narrativas, permitindo explorar os limites da criatividade. No entanto, é evidente que essa tecnologia ainda está em uma fase inicial de desenvolvimento. O resultado é uma aparência artificial nos personagens, que gera no público o desconforto associado ao "vale da estranheza". Infelizmente, esse efeito compromete a experiência e se torna um dos pontos mais fracos do filme.
Junto ao desconforto gerado pelo "vale da estranheza", a implementação dessa tecnologia também prejudica a criação de empatia com os personagens. O filtro digital utilizado para o envelhecimento e rejuvenescimento direto na gravação dá uma aparência plástica e artificial, que limita a expressão de microexpressões e jogos de olhares – elementos fundamentais para transmitir a linguagem não verbal tão essencial em um filme de drama. Deixando essa questão do filtro de lado, o roteiro também falha em estabelecer uma conexão emocional com o público. Como mencionado anteriormente, o foco excessivo na relação de causa e consequência das ações reduz o espaço para explorar como os personagens lidam com os conflitos. Não há tempo para absorver os momentos, pois logo surge a próxima consequência, e esse padrão se repete ao longo do filme.
No que diz respeito às atuações, os protagonistas entregam performances medianas, apesar de suas experiências consolidadas. Tom Hanks permanece em sua zona de conforto, oferecendo um trabalho competente, mas sem inovação. Robin Wright, embora demonstre o desejo de alcançar um nível dramático mais elevado, é limitada por um personagem que restringe suas emoções. Ambos os atores, embora talentosos, acabam presos às limitações impostas pelo roteiro e pela direção. Enquanto isso, os atores coadjuvantes apresentam desempenhos abaixo da média, o que reforça a desconexão emocional da narrativa.
Em meio a tantos núcleos de personagens, a direção do filme apresenta uma história fragmentada em lapsos momentâneos. Embora a montagem mantenha certa coesão visual entre as transições, a troca de um núcleo para outro, mesmo abordando temas semelhantes – como um funeral, a descoberta de uma gravidez ou um pedido de casamento –, interrompe o desenvolvimento emocional. Momentos que poderiam levar a conversas mais profundas acabam silenciados, pois o filme parece evitar esse aprofundamento em prol de avançar para a próxima cena. A falta de tempo dedicado aos personagens compromete a conexão com o público. "Pessoas se conectam com pessoas", e o tempo é uma ferramenta narrativa essencial para criar empatia e fazer o público perceber o impacto emocional dos acontecimentos sob os personagens em tela, seja pela linguagem verbal ou não.
Apesar dos problemas mencionados, o filme está longe de ser ruim. Ao final, fica claro que a história não se limita apenas a Richard (Tom Hanks), Margaret (Robin Wright) ou aos demais núcleos de personagens. A obra aborda temas presentes na vida de todos como família, relacionamentos, sonhos e, sobretudo, a passagem do tempo. O filme entrega um desfecho extremamente satisfatório que, considerando o contexto geral, dependendo do nível de envolvimento do espectador com os conflitos apresentados, é difícil chegar ao fim sem se emocionar.
Assinatura: Thales Nunes
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